Além da educação, saúde, segurança pública, saneamento básico, do abismo separando ricos e pobres, das questões da terra, da energia, da poluição, da falta de planejamento no desenvolvimento das metrópoles, do problema da iluminação, das constantes greves em mais de 40 setores que o governo federal vêm enfrentando, da crise econômica, das políticas públicas, da questão das moradias, de mais de 50 universidades públicas que atingiram uma greve de duração recorde na história do ensino superior brasileiro, do desmatamento, das ineficientes políticas de desenvolvimento universitário, do atraso nas obras para a Copa do Mundo de 2014, do crescente desemprego, da justiça, do abandono das infraestruturas públicas, dos elevados impostos, da alta evasão escolar, do estagnado analfabetismo funcional… Ufa! A lista de problemas econômicos, políticos e sociais é imensa e não para por aí. Um novo problema surge e merece grande destaque: a dificuldade de locomoção nos grandes centros urbanos.
A população das grandes cidades brasileiras cresce todos os dias, porém as melhoras do transporte público não crescem no mesmo ritmo. Resultado: mais carros nas ruas. É intuitivo que muitos carros nas ruas provocam trânsito, que gera poluição, que causa danos à saúde, como doenças respiratórias, câncer e estresse. De acordo com uma recente pesquisa feita em São Paulo pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em parceira com a USP e Harvard, as últimas “medidas adotadas pelo poder público para melhorar o ar da capital paulista até agora foram importantes, porém não suficientes para evitar problemas de saúde. Apesar de a poluição ter diminuído, o número de veículos nas ruas está crescendo.”
A metrópole de São Paulo tem uma taxa de crescimento populacional anual de 1,2%, segundo o IBGE. Quer dizer que, a cada ano, a população aumenta 250 mil habitantes. Não se impressionou? Ao acompanhar o mesmo ritmo de crescimento, em 10 anos serão 2,5 novos milhões de habitantes, que corresponderão a 9% da população paulistana para o ano. Em 2022, 9% da população de São Paulo foi incluída na cidade nos últimos 10 anos. Para uma cidade que levou mais de 450 anos para atingir a marca de 20 milhões de pessoas, esse número é espantoso.
As comparações do sistema metroviário de Nova York com o de São Paulo são assustadoramente desiguais. São Paulo foi fundada 70 anos antes que Nova York e possui 7 vezes menos metrô. Veja outras comparações:
Comparações entre o metrô de NY e o de SP:
- Nova York, EUA
388 anos (SP é 70 anos mais velha)
370 km de metrô (5 vezes mais que SP)
468 estações (7 vezes mais que SP)
780 km² de área (metade de SP)
18 milhões de habitantes na metrópole (2 milhões a menos que SP)
1,4 bilhão de pessoas usam o metrô por ano (300 milhões a mais que SP)
3,8 milhões de pessoas / km² de metrô / ano (4 vezes mais vazio que SP)
- São Paulo, Brasil
458 anos (70 anos mais velha que NY)
74 km de metrô (5 vezes menos que NY)
64 estações (7 vezes menos que NY)
1 600 km² de área (2 vezes NY)
20 milhões de habitantes na metrópole (2 milhões a mais que NY)
1,1 bilhão de pessoas usa o metrô por ano (consideráveis 300 milhões menos que NY)
14,8 milhões de pessoas / km² de metrô / ano (4 vezes mais lotado que NY)
O metrô paulistano é mais lotado do mundo, de acordo com uma matéria publicada pelo jornal Folha de S. Paulo no fim de 2011. Pela comparação feita acima, é possível concluir que o metrô da capital paulista é 4 vezes mais lotado que o metrô da “capital do mundo”. A linha 4 (amarela) em São Paulo, a mais moderna da megacidade brasileira, que funciona com apenas 6 das 11 estações ainda em construção e um número muito reduzido de trens supermodernos e sem condutor, responde por cambaleantes 50% de sua eficiência total e já apresentou resultados espantosos de superlotação após sua longa fase de testes. Já ouvi pessoas no metrô se referindo à superlotação nos horários de pico como “o inferno de todo dia”.
Outro fato que vale a pena ser comentado pela oportunidade de expôr tal assunto no blog é o do dia mundial sem carro, que aconteceu há alguns dias. Enquanto houver políticas públicas de incentivo ao uso do automóvel (IPI reduzido, entre outras), o dia mundial do carro será congestionado. Não adianta a prefeitura de São Paulo criar ciclofaixas que funcionam aos domingos em vários locais da cidade, sem promover o uso do transporte público durante a semana. É certo que o objetivo da ciclofaixa no domingo não é aliviar o trânsito, mas sim promover lazer para os paulistanos, porém, é de grande contradição, o domingo ser superior ao sábado nos números de congestionamento. A prefeitura criou a ciclofaixa em várias importantes avenidas da cidade e, algumas delas, cedem metade do seu espaço para as bicicletas e a outra metade para os automóveis. Em dias de chuva, não se observa um ciclista nas duas faixas destinadas à ciclofaixa na ponte Cidade Universitária, mas, em réplica, vê-se apenas três faixas destinadas aos carros e um trânsito infernal atingindo a marginal Pinheiros. Falha no planejamento. O jornal Folha de S. Paulo publicou, no dia 22 de setembro de 2012, a seguinte matéria: No Dia Mundial Sem Carro, SP tem lentidão e ciclofaixa quase vazia.
É hora de a população se unir, reclamar mudanças e aproveitar o ano de eleição para exigir dos candidatos solução para problemas de trânsito nas grandes capitais brasileiras.
Termino a coluna com uma autêntica citação das questões do transporte: “Cidade desenvolvida não é aquela onde os pobres têm carro, é aquela onde os ricos usam o transporte público.”
por Gabriel Zago
25 de setembro de 2012
Referências: Unifesp, IBGE, CPTM e Folha de São Paulo